Psicologia
Hiperactividade infantil manifesta-se também na idade adulta
Definida como uma perturbação neurobiológica do desenvolvimento, a hiperactividade tem uma base genética muito bem-demonstrada. Posteriormente, poderá ser influenciada por factores ambientais e sociais e persistir pela vida adulta.
«Preferia não usar o termo hiperactividade», afirma o Dr. Carlos Filipe, psiquiatra, director e coordenador das áreas de Pedopsiquiatria e Psiquiatria de adultos no CADIn – Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil.
«Nos adultos, a hiperactividade desaparece e dá lugar a outras manifestações, sendo ela própria uma manifestação e não o núcleo central da perturbação designada perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA)», acrescenta o psiquiatra, em jeito de explicação, completando:
«Quando falamos em hiperactividade, pensamos naquela criança irrequieta que anda a correr de um lado para o outro ou que não consegue estar no mesmo sítio. Nem sempre é assim. Por exemplo, nas raparigas essa hiperactividade é menos frequente. Aquilo que está, na maioria dos casos, invariavelmente presente é o défice de atenção, ou seja, a incapacidade de estar atento, a incapacidade de estar concentrado numa tarefa.»
A outra face da hiperactividade
Estima-se que cerca de 4 a 8% das crianças em idade escolar apresentam critérios de diagnóstico para hiperactividade com défice de atenção. Estima-se também que em aproximadamente 50% destas crianças tais sintomas persistem na vida adulta. Sintomas esses suficientemente importantes para merecerem intervenção médica, caso perturbem a vida social e profissional. Porém, nem todos os adultos possuidores deste défice foram crianças hiperactivas.
Por outro lado, nos adultos afectados por esta perturbação surgem outras manifestações que, de alguma forma, substituem a hiperactividade da infância.
A dificuldade em adormecer à noite é uma delas, pois a actividade intelectual acentua-se e surgem ideias sobre ideias.
A impulsividade é outra, assim como a falta de atenção e a desorganização.
«É indício que sofrem de hiperactividade com défice de atenção aqueles que constantemente agem antes de pensar, que não conseguem ouvir até ao fim o que os outros estão a dizer e que actuam de uma forma muito impulsiva nas coisas práticas do dia-a-dia», comenta Carlos Filipe, apontando outro comportamento:
«Quando fazemos a biografia destas pessoas, encontramos um “saltitar” de empregos maior do aquele que acontece, por norma, na população em geral.
O crescente número de empregos ocorre ou por abandono do próprio (porque há uma dificuldade muito grande de suportar a rotina e, sem pensar nas consequências ou temerem o desemprego, despedem-se), ou porque são despedidos porque têm dificuldade em efectuar tarefas que necessitem de maior cuidado em termos de horários ou espaços mais fechados.»
«Tal como sucede na carreira, a vida afectiva é idêntica», continua, «são pessoas que frequentemente têm uma vida afectiva atribulada ou com algumas relações afectivas bastante instáveis».
A juntar a tudo isto, com grande frequência, têm dificuldade em cumprir horários, organizar o seu tempo, dar prioridades e organizar no tempo e no espaço as suas actividades. Por exemplo, se começarem uma determinada tarefa e de repente depararem com qualquer outra tarefa que, de imediato, lhes desvia a atenção da anterior começam a executá-la.
«Os adultos com PHDA de maneira nenhuma têm um Q.I. mais baixo, são tão inteligentes como a população em geral», salienta Carlos Filipe, prosseguindo:
«Geralmente, fazem um enorme esforço para acabarem o que começaram, sendo que o abandono constante de determinadas tarefas acontece, em especial, com as que lhes são mais aborrecidas ou desagradáveis. Mas se efectuarem algo que as motiva é “ouro sobre azul”.»
Toda esta dispersão acontece no trabalho, nos estudos, na vida social e afectiva. Contudo, se estiverem muito bem-orientadas, tudo isto pode passar, de alguma forma, despercebido.
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